O remorso
Alfredo marceneiroNinguém responde... que medo...
que eu tenho de abrir a porta.
Deu meia-noite na Sé.
Quem virá tanto em segredo
Acordar-me a hora morta?
Batem de novo, meu Deus!
Quem é, tem pressa de entrar,
E eu sem luz, nada se vê
A Lua fugiu dos Céus
Nem uma estrela a brilhar
Batem-me à porta, quem é?...
Quem é?... quem é?... que pretende?...
Não abro a porta a ninguém...
Não abro a porta ´inda é cedo...
Talvez seja algum doente
ou um fantasma, porém
ninguém responde... que medo.
Será o fantasma dela
da que matei. Não o creio!...
A vida, a morte que importa.
Se espreitasse pela janela,
Jesus! Jesus! que receio
que eu tenho de abrir a porta.
Feia Noite de Natal.
A esta hora o Deus Menino
Já nasceu na Nazaré.
Não há perdão para meu mal
Calou-se o Galo. E o sino
deu meia-noite na Sé.
Continuam a bater
Decerto que é a Justiça
P´ra conduzir-me ao degredo
Matei, tenho de morrer
Oh! minha alma assustadiça
Quem virá tanto em segredo?
Seja quem for, é um esforço
Vou-me entregar que tormento
Que me vence e desconforta.
- Ninguém bateu! Oh! remorso
Não é ninguém! É o vento
Acordar-me a hora morta.