Allanzi

Anônimo eu

Allanzi
Eu tenho saído de casa todo dia
Eu tenho uma casa, então não reclamo
Eu tenho uma hora por dia

Eu tenho matado meu tempo
de modo cruel

Eu tenho vontade
eu vou dar com a língua nos dentes, mas...

Eu tenho amor guardado
com uma chave só

Eu tenho certeza
Eu temo nem sete
fariam melhor

Eu tenho tentado
causar um problema

Pois tenho a mim mesmo
e às vezes me basta

Pode parecer avareza ou soberba
pecado qualquer que queira

Pode condenar esse homem
que deixa a fraqueza surgir

Pode ser um caso de estudo
Pode ser em tese um fracasso

Pode ler minha mão

Pode ver que a linha é a dobra do gesto
que tenta agarrar o destino

Pode ver que estive perdido
mas sempre no mesmo lugar

E quem vai colar o rosto no meu
pra saber se ainda suspiro essa vida
se ainda suspeito que tenho o direito
de ser esse antônimo anônimo eu?

Quem vai saber se o tempo não pára
quando escrevo uma canção
muitos dirão que estou louco
acredito que são

Quem vai saber se o tempo não pára
quando escrevo uma canção
muitos dirão que estou louco
acredito que são

Eu tenho pensado na morte todo dia
Eu tenho uma hora, e como eu a amo
Eu tenho uma vida por dia

Eu tenho arrastado a sua corrente
pra me libertar

Eu tenho bastante ar nesse peito
mas não vou gritar

Pode parecer penitência, um castigo
uma droga qualquer, me deixa

Pode imaginar o esforço
de um pé ante outro, o concreto que é?

E quem vai colar o rosto no meu
pra saber se ainda suspiro essa vida
se ainda suspeito que tenho o direito
de ser esse antônimo anônimo eu?

Quem vai saber se o tempo me espera
enquanto encontro uma razão?

Muitos dirão que já tenho
acredito que não

Quem vai saber se o universo
não é só um poema em construção?

Muitos procuram autores
acredito que são

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