Ruas
Antonio villeroyRua de carros suspensos no ar
Rua de estranhos chapéus que pensamentos exalam
Insustentável leveza do olhar
Ruas recortam fronteiras tão longe tão perto de mim
Lambendo a poeira, roçando nos pés
Ruas que são porto aberto de amores, dores e afins
Trazendo notícias e outros papéis
Ruas por onde se encontram paixões escondidas
Gerando outras ruas de sonhos bebês
Sonhos de ruas que cruzam cidades perdidas
Tesouros que o tempo não soube comer
Mas numa rua eu te encontro e uma alegria se instala
Entre faróis e avenidas nossos amores se embalam
Ruas de balorixás onde uma chama palpita
Pedindo por graças a um santo do bem
Rua pancada despita que em mais nada acredita
Nem olha pros lados, nem flerta ninguém
Ruas que batem no peito onde outros passos ecoam
Descendo a ladeira sem olhos pra trás
Rua de estampidos secos e alguns sapatos que voam
Bandidos polícias e anjos da paz
Rua esquecida na câmera lenta do tempo
Sem pedra polida, de nome qualquer
Ruas que nunca existirma e cismam ao vento
Sem gente bonita ou gente sequer
Mas numa rua eu te encontro ?
Ruas da minha cidade de madrugadas malditas
Do cheiro do mijo de um século atrás
Ruas de outras cidades onde me identifico
Em Praga, Paris ou num beco do Brás
Ruas sem contos de fadas onde adormecem os meninos
Na rua da praia, num beco ou paiol
Ruas da cor do ipê, de novembro do sul do Brasil
De nuvens vermelhas na hora do sol
Rua que é meu endereço onde tudo começa
Meus planos, meus passos, por onde me vês
Rua de onde me ausento a passar outras ruas
Ao longe, ao tempo, bem mais do que um mês
Mas numa rua eu te encontro e uma alegria se instala
Entre faróis e avenidas nossos amores se embalam