Não interessa nada
António zambujoViver mascarada
Fingir que se ama
Se não tem coração
Fazer-se cara
Tipo joia rara
Ardendo apenas na chama
Da televisão
Mesmo que procure só bem vestir
A mulher pomposa passa a vida a investir
Joga com aqueles que consegue iludir
Joga com seus trunfos mas mal consegue dormir
E cedo ou tarde acorda em maus lençóis
Não interessa nada
Ficar amuada
Sem sair da cama
Sem sequer se vestir
Mulher cansada
Torna-se pesada
Fica confinada
Ao peixe que lhe cair
Mesmo que não pense em se divertir
A moça que sossega deve pensar em sair
Dorme conforme as horas que haja pra dormir
Acordará com sono mas acordará a rir
E tem sempre bem cheirosos seus lençóis
Não interessa nada
Ir contrariada
Viver conformada
Com uma pobre sina
Mulher que manda
É feliz com quem anda
Faz da vida samba
Dança e desatina
Mesmo que pareça arrebitação
Teimar na vida certa dá mais força ao coração
Fazer-se lenta só a torna cinzenta
Mulher que se sustenta mais se aguenta
Por quem provar o amor dos seus lençóis
Não interessa nada
Viver mascarada
Fingir que se ama
De quem se quer fugir
A mulher que engana
Faz a sua cama
E ainda se trama
Que deixa de dormir
Ainda que pareça solidariedade
Em vez de um falso amor mais vale ter uma amizade
Que o futuro cobra o que não seja de verdade
Parece bem na hora mas depois, mais tarde
Quem vai desocupar os seus lençóis?