Poema dos olhos da amada
António zambujo
Oh, minha amada,
Que olhos os teus:
São cais nocturnos
Cheios de adeus,
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe,
Longe nos breus.
Que olhos os teus:
São cais nocturnos
Cheios de adeus,
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe,
Longe nos breus.
Oh, minha amada,
Que olhos os teus!
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros,
Quantos navios,
Quantos naufrágios
Nos olhos teus.
Oh, minha amada,
Que olhos os teus!
Se Deus houvera,
Fizera-os Deus
Pois, não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.
Ah, minha amada
De olhos ateus:
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.
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