António zambujo

Readers digest

António zambujo
Quero a vida pacata que acata o destino sem desatino
Sem birra nem mossa, que só coça quando lhe dá
comichão
À frente uma estrada, não muito encurvada atrás a
carroça
grande e grossa que eu possa arrastar sem fazer pó no
chão
e já agora a gravata, com o nó que me ata bem o
pescoço
para que o alvoroço, o tremoço e o almoço demorem a
entrar
quero ter um sofá e no peito um crachá quero ser
funcionário
com cargo honorário e carga de horário e um ponto a
picar

Vou dizer que sim, ser assim assim, assinar a readers
digest
haja este sonho que desde rebento acalento em mim
ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em
França
abrandando a dança, descansado até ao fim

Quero ter um t1, ter um cão e um gato e um fato
escuro
barbear e rosto, pagar o imposto, disposto a tanto
quem sabe amiúde brindar à saúde com um copo de
vinho,
saudar o vizinho, acender uma vela ao santo
Quero vida pacata, pataca, gravata, sapato barato
basta na boca uma sopa com pão, com cupão de desconto
emprego, sossego, renego o chamego e faço de conta
fato janota, quota na conta e a nota de conto

Vou dizer que sim ser assim assim assinar a readers
digest
haja este sonho que desde rebento acalento em mim
ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em
França
abrandando a dança, descansado até ao fim

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