29 de dezembro
Arnaldo antunesna avenida um fuca acelera sendo cara ou coroa
celebra-se a vida joga a moeda
menino ou menina pra confirmar
se for em cima da hora quem ver primeiro vai chorar
todo mundo cheio de razão, mas o mais abalado
é o pai que tá na missão
quando viu o neném mais esperado.
mais um pouco e todo mundo invadia o quarto
ninguém notou como ele aquele choro
ninguém nunca viu ele tão disposto
desempregado mas longe do desgosto.
naquela hora agradecer ainda era pouco
o berço em casa comprado com esforço
já faz alguns dias que não sabe o que é o almoço
tá no maior calor, liga os manos que o herdeiro chegou
meu filho nasceu muito bem, nossa cara, nossa vida é na favela
um salve aos parceiros que tiveram os herdeiros também
um berro de bebê acende o sol na terra quando sai do útero o mundo
melhora
quando nasce alguém e a toda hora nasce alguém sai da placenta pro
planeta
move o coração de tudo em direção ao fruto gordo do futuro de uma ponta à
outra da bochecha um riso de gengiva é mais potente que uma ogiva
despejada
em campo de batalha a vida explode muda o rumo desvia o destino com seu
choro aberto certo no querer apenas leito e leite sem enfeite amor e
pronto
muito pouco a vida continua simples no começo todo nascimento acende a
consciência que se abre em outra ao que vier na rua o mundo inteiro ecoa
quando soa o som da voz do balbucio que ainda não é sílaba sentido ou
fala
mas que move os carros na avenida agora mais bonita e sempre com faróis
piscando anunciando a vida que hoje passa e deixa sua marca um ponto a
mais
dizendo estou aqui resisto existo caibo sou bem vindo ao mundo abro o
peito
virgem de viver agora deixo acontecer nascer passar prazer e dor e nasça
passe nossa e novamente renovada vida tudo certo o céu no centro o sol no
eixo o brilho no olho o trem no trilho agora nada dói meu filho é meu
herói