Arnaldo antunes

Insônia

Arnaldo antunes
Meia noite e meia
Uma pedra range
Uma porta late
Um cachorro longe
O motor de um carro
No portão de casa
Bate o vento passa
Na janela inteira

Meia lua cheia
Na montanha imóvel
Que me olha imensa
Fora do que penso
No meio da sala
Meu sapato encalha
Nos pés da cadeira
Um som que não pára

No silêncio claro
Do vidro uma abelha
Zumbe em minha telha
Chove minha cara
Velha agora espelha
Na poça uma estrela
Treme e atravessa
O avesso da véspera
Desamanhece
E eu desadormeço

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