Cálice
Bárbara jardimPai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda (cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta (cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
Pai! afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno (cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado (cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado (cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno (pai! cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel (cale-se!)
Me embriagar até que alguém me esqueça (cale-se!)