Sou caiçara
BrancoalaQuando era moleque era chamado de caiçara
Não entendia por que me chamavam assim
Eu não gosto do sol, ele não gosta de mim
Eu odeio calor, minha pele não aguenta
Embaixo do guarda-sol passava protetor 50
Enquanto todo mundo ia pra água
Eu ficava na areia, só cuidando das toalha
Me lembro bem como o trauma começou
Fui tentar pegar uma onda mas a onda me pegou
Tomei um caldo, fui parar a uns 9 metros
Perdi o rumo, não sabia mais onde era o teto
"Moleque doido, não vai pra água não!"
"Você comeu agora, cuidado com a indigestão!"
Entrei na água pra pegar um jacaré
Mas saí com um galo na cabeça e um caranguejo no pé
Sou caiçara, nasci na praia e tenho o poder
De ficar branco o ano inteiro e não morrer
Na batalha minha fé não falha, eu sei viver
Sem sandália, chapéu de palha, vou te dizer
Santos, Praia Grande, Ocean, Vila Tupi
Já morei no Samambaia e no fundo do Melvi
Não me conhece, acha que eu sou paulista
Deve ser pela cor, deve ser moralista
Na baixada não é fácil ser branquelo
Era tachado de azedo, desbotado, magricelo
Fazer o que, ia vivendo na vivência
Difícil mesmo era viver com a violência
"Moleque doido, cuidado com arrastão!"
"Se alguém chegar pra te roubar segura minha mão!"
A minha mãe, sempre preocupada
É que tamo no brasil, né, ela tá ligada
O país onde o branco com playboy é confundido
E o negro todo dia é confundido com bandido
Não tô aqui pra falar de preconceito
Esse assunto já é utopia, não tem mais jeito
Sou caiçara, nasci na praia e tenho o poder
De ficar branco o ano inteiro e não morrer
Na batalha minha fé não falha, eu sei viver
Sem sandália, chapéu de palha, vou te dizer