Claudia leitte

Manguetown

Claudia leitte
Estou enfiado na lama
É um bairro sujo
Onde os urubus têm casas
E eu não tenho asas.

Mas estou aqui em minha casa
Onde os urubus têm asas
Vou pintando, segurando as paredes do mangue do meu quintal
Manguetown.

Andando por entre os becos
Andando em coletivos
Ninguém foge ao cheiro sujo
Da lama do Manguetown.

Andando por entre os becos
Andando em coletivos
Ninguém foge à vida suja dos dias do Manguetown
Esta noite eu sairei.

Vou beber com meus amigos
E com as asas que os urubus me deram ao dia
Eu voarei por toda a periferia
Vou sonhando com a mulher.

Que talvez eu possa encontrar
Ela também vai andar
Na lama do meu quintal
Manguetown.

Fui no mangue catar lixo
Pegar caranguejo, conversar com urubu.

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