Herói sem medalha
Cláudio lacerdaFui um herói sem medalha na profissão de carreiro
Puxando tóra do mato com doze boi pantaneiro
Eu ajudei desbravar nosso sertão brasileiro
Sem vaidade eu confesso
Do nosso imenso progresso, eu fui um dos pioneiro
Vejam bem como o destino muda a vida de um homem
Uma doença malvada minha boiada consome
Só ficou um boi mestiço que chamava lubisome
Por ser preto igual carvão foi que’u lhe pus esse nome
E pouco tempo depois
Eu vendi aquele boi, pros filhos não passar fome
Aborrecido com a sorte dali resolvi mudar
E numa cidade grande com a família fui morar
Por eu ser analfabeto tive que me sujeitar
Trabalhar no matadouro para o pão poder ganhar
Como eu era um home forte
Nuqueava o gado de corte, pros companheiro sangrar
Vejam bem a nossa vida como muda de repente
Eu que às vezes chorava quando um boi ficava doente
Ali eu era obrigado matar a rês inocente
Mas certo dia o destino me transformou novamente
O boi da cor de carvão
Pra morrer na minha mão, estava na minha frente
Quando vi meu boi carreiro não contive a emoção
Os olhos encheram d’água meus prantos caíram ao chão
O boi me reconheceu e lambeu a minha mão
Sem poder salvar a vida do boi de estimação
Pedi a conta e fui embora
Desisti na mesma hora, desta ingrata profissão