De cristo para o mundo
Delfins
Cristo
Quando me vires levar
pela rua da amargura,
que olhes a minha figura,
e o sangue que eu derramar
tome a tua alma por cura.
e, quando os saiões da cidade
me pregarem no madeiro
com fortes pregos de aceiro,
que olhes com que vontade
me entreguei ao carniceiro.
e não quero de ti mais
lá reparte teus cruzados
teus impérios e reinados
e tuas pompas mortais
que eu não quero teus morgados
e, quando vires expirar
o meu espírito cansado,
o meu coração finado,
que tu te queiras lembrar
que eu morro por teu pecado.
quando enterrado me vires
sem companhia nem amparo,
que do teu coração tires suspiros, com que suspires
minha morte e desampado.
seja papa quem quiser,
seja rei quem tu quiseres,
que os impérios e poderes
a morte os há-de prover
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