Fernando maurício

O leilão da casa da mariquinhas

Fernando maurício
Ninguém sabe dizer nada
Da formosa Mariquinhas
A casa foi leiloada
Venderam-lhe as tabuinhas

Ainda fresca e com gajé
Encontrei na Mouraria
A antiga Rosa Maria
E o Chico do Cachené
Fui-lhes falar, já se vê
E perguntei-lhes de entrada
Pela Mariquinhas, coitada

Respondeu-me o Chico: E vê-la?
Tenho querido saber dela
Ninguém sabe dizer nada
As outras suas amigas
A Clotilde, a Júlia, a Alda
A Inês, a Berta, a Mafalda
E as outras mais raparigas
Aprendiam-lhe as cantigas
As mais ternas, coitadinhas
Formosas como andorinhas
Olhos e peitos em brasa
Que pena tenho da casa
Da formosa Mariquinhas!

Então o Chico apertado
Com perguntas, explicou-se
A vizinhança zangou-se
Fez um abaixo-assinado
Diziam que havia fado
Ali, até madrugada
E a pobre foi intimada
A sair foi posta fora
E por mor duma penhora
A casa foi leiloada

O Chico fora ao leilão
Arrematou a guitarra
O espelho, a colcha com barra
O cofre-forte e o fogão

Como não houve cambão
Porque eram coisas mesquinhas
Trouxe um par de chinelinhas
O alvará e as bambinelas
E até das próprias janelas
Venderam-lhe as tabuinhas

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