Jussara silveira

O dia que passou

Jussara silveira
Outra vez o sol, saudade
Corre sobre o rio
Inundando de clareza
O que está vazio
Daquela tarde em que você se foi
E a tarde foi atrás do sol

Imploro a Deus, meu Deus, amaldiçoe
As tardes por trás do sol
Outra vez o sol e a face
Franze contra a luz
Protegendo de amarelos
Íntimos azuis

Mas o meu coração de bicho frio
Um bicho frio na terra ao sol
Esconde o fogo de um secreto rio
Na pele de terra ao sol
Sol
Tanto sol só pra ver
Cada dia nascer
O dia que passou

Sol
Outro sol venha ser
Cada dia viver
É tudo e acabou
Outra vez o sol, saudade
Lá se vai abril
Outra vez a consciência
Dói de tanto estio
E a minha carne de sol, suor

Da carne ao sol, salgada ao sol
Resume tudo o mundo ao meu redor
A carne salgada ao sol
Outra vez o sol e a margem
Desapareceu
Dependente da metade

O inteiro eu
Houvesse um leito ainda mais vazio
Vazio e a Terra nua ao sol
Talvez o meu peito invente o próprio estio
Da nua luz do lençol

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