Lamentos do Órfão - joão de deus (espírito)
Maurício gringoQue tu te foste, triste sem mim
Já não me embala tua meiguice
E não podias partir assim
Eu acredito que tenhas ido
Pedir a Deus, que possui a luz
Que de mim faça, do teu querido
Um dos seus anjos, outro Jesus
Mas tanto tempo faz que partiste
Que me fugiste sem me levar
Que sofro e choro, saudoso e triste
Sem esperanças de te encontrar
Há quantos dias que te procuro
Que te procuro chamando em vão!
Tudo é silêncio tristonho e escuro
Tudo é saudade no coração
Outros meninos alegres vejo
Numa alegria terna e louçã
Que exclamam rindo dentro dum beijo
Como eu te adoro, minha mamã!
Sinto um anseio sublime e santo
De nos meus braços, mãe, te beijar
E abraço o espaço, beijo o meu pranto
Somente a mágoa vem-me afagar
Inquiro o vento: Quando verei
Minha mãezinha boa e querida?
E o vento triste diz-me: Não sei!
Só noutra vida, só noutra vida!
Pergunto à fonte, pergunto à ave
Quando regressas dos Céus supremos
E me respondem em voz suave
Nós não sabemos! Nós não sabemos!
Pergunto à flor que engalana a aurora
Quando é que voltas desse país
E ela retruca, consoladora
Depois da morte serás feliz
E digo ao sino na tarde calma
Onde está ela, meu doce bem?
Ele responde, grave, à minhalma
Além na luz! Na luz do Além!
O mar e a noite me crucificam
Multiplicando meus pobres ais
Cheios de angústias, ambos replicam
Tua mãezinha não volta mais
Somente a nuvem, quando eu imploro
Diz-me que vens e diz que te vê
E me conforta, do céu, se eu choro
Eu vou chamá-la para você
Sempre te espero, mas, ai! Não voltas
Nem para dar-me consolação
Ó mãe querida, que mágoas soltas
Andam cortando meu coração
Tanta saudade, e, no entretanto
Vejo-te linda nos sonhos meus
Ajoelhada, banhada em pranto
E de mãos postas aos pés de Deus
Sempre a meus olhos, estás bonita
Qual uma rosa, como um jasmim!
Porém conheço que estás aflita
Com o pensamento junto de mim
Então, entrego-me ao meu desejo
Tremo de anseio, calo, sorrio
Sentindo o anélito do teu beijo
Mas abro os olhos no ar vazio!
Vai-se-me o sonho
Quanta amargura
Que sinto esparsa pelo caminho!
Que mágoa eterna! Que desventura
Para quem segue triste e sozinho
Volta depressa! Guardo-te flores
Porque só vivo pensando em ti
Celebraremos nossos amores
Junto da fonte que canta e ri
Já não suporto tantos cansaços!
Se não voltares, pede a Jesus
Que te conceda pôr-me em teus braços
Foge comigo para outra luz!
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