Michel f.m.

O Último rei das ruínas

Michel f.m.
Seis quarteirões para alguns, um complexo residencial para outros, o labirinto inconcluível de uma insana trajetória para Edegar. Aquele lugar tinha sido em um momento de sua história passada, quase próspero. Ali, diversos empreendimentos sobreviveram durante anos, abastecendo a população local em suas mais variadas necessidades lojas de roupas, sapatos e acessórios, com todos os formatos, cores e tamanhos para os gostos menos exigentes uma barbearia uma padaria uma escola um carrinho de cachorro-quente um carrinho de churros que também vendia doce de cocada uma banca de jornais uma praça arborizada com uma fonte no centro um clube. Os habitantes daquela localidade conheciam Edegar, mas ele nunca ocupou uma posição de destaque, na política, no comércio, no esporte, na arte não ganhou prêmios, concursos, rifas, apostas Edegar nunca apostou. Ele gostava de pastel de queijo, jabuticaba, garapa, de vez em quando um trago de pinga, geralmente com vermute, a famosa rabo de galo.

Edegar era um filósofo, apesar de raramente falar algo, ele notava, notava as pessoas, as construções, os veículos, as sarjetas, o mato que nascia por entre o calçamento notava o céu, conhecia tão bem as nuvens, as revoadas de pássaros próximas do rio que cortava a vila. Enquanto os organismos se transformavam, Edegar permanecia sentado nas ruínas do velho clube abandonado e elas não o abandonavam. A arquitetura se modificava, os modismos iam e vinham, tecnologias surgiam a todo vapor virtual, cada qual se ocupava com suas ocupações. Edegar despreocupado, permanecia sentado nas ruínas do velho clube abandonado. A maioria pensava que Edegar fosse apenas mais um inativo. Não, ele era notável. No entanto num dia desses, passei como de costume na frente do velho clube, e o ilustre guardião das ruínas não se encontrava mais em sua ocupação. O notório Edegar que por tantos anos aquele local ocupou, não ocupava mais seu lugar.

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