Um caminhão de saudade
Moacyr francoLevava abóbora, milho e gado de uma vez
Meu Ford véio não passava humilhação
Nossa Senhora, o que levou meu caminhão
Mas no domingo transportava casamento
Noiva, noivo e o pessoal
Superlotado de inocência e de desejo
Atravessava o milharal
Rosto avermelhado pelo sangue
E pelo medo de um olhar
Roupa feita em casa
Esperança colorida no tear
Meu caminhão mudou
E agora é um altar
Tem capelão, tem seis padrinhos
Para entrar
Depois do sim um beijo puro inaugural
O primeiro dele e dela antes do lar
Sanfona rasga um valseado
Encomendado no clarão do fim do dia
Vira um salão dos namorados
O assoalho da minha carroceria
Juro defender a bendita água
Sob a luz do lampião
Voa pelo vale aquele som
Acariciando o coração
Na madrugada todos pedem que eu buzine
Meu caminhão virava agora limusine
O riso dela e dele agora até cintila
É que no escuro o amor da gente
Mais rebrilha
Casinha branca de adobro barreada
Esperava aquele amor
Daqui a pouco o canteiro tá regado
E começa nascer flor
E o mercadeiro vai retornando
Lentamente pela sua estrada
Como quem tem alma e ela hoje
Deve pra recompensar
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