Padre alessandro campos

Caboclo na cidade

Padre alessandro campos
Seu moço eu já fui roceiro
No triângulo mineiro
Onde eu tinha o meu ranchinho

Eu tinha uma vida boa
Com a Isabel minha patroa
E quatro barrigudinhos

Eu tinha dois bois carreiros
Muito porco no chiqueiro
E um cavalo bom, arriado

Espingarda cartucheira
Quatorze vacas leiteiras
E um arrozal no banhado

Na cidade eu só ia
A cada quinze ou vinte dias
Para vender queijo na feira

E no demais estava folgado
Todo dia era feriado
Pescava a semana inteira

Muita gente assim me diz
Que não tem mesmo raiz
Essa tal felicidade

Então aconteceu isso
Resolvi vender o sítio
E vir morar na cidade

Já faz mais de doze anos
Que eu aqui estou morando
Como eu to arrependido

Aqui tudo é diferente
Não me dou com essa gente
Vivo muito aborrecido

Não ganho nem pra comer
Já não sei o que fazer
To ficando quase louco

É só luxo e vaidade
Penso até que a cidade
Não é lugar de caboclo

Minha filha Sebastiana
Que sempre foi tão bacana
Me dá pena da coitada

Namorou um cabeludo
Que dizia Ter de tudo
Mas foi ver não tinha nada

Se mandou para outras bandas
Ninguém sabe onde ele anda
E a filha está abandonada

Como dói meu coração
Ver a sua situação
Nem solteira e nem casada

Até mesmo a minha velha
Já está mudando de idéia
Tem que ver como passeia

Vai tomar banho de praia
Tá usando mini-saia
E arrancando a sobrancelha

Nem comigo se incomoda
Quer saber de andar na moda
Com as unhas todas vermelhas

Depois que ficou madura
Começou a usar pintura
Credo em cruz que coisa feia


Voltar "pra" Minas Gerais
Sei que agora não dá mais
Acabou o meu dinheiro

Que saudade da palhoça
Eu sonho com a minha roça
No triângulo mineiro

Eu não sei como se deu isso
Quando eu vendi o sítio
Para vir morar na cidade

Seu moço naquele dia
Eu vendi minha família
E a minha felicidade!

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