Pais paraplégicos
Padre zezinhoQue um dia não mais andou
Era um caboclo decente
Que um acidente tombou
Pelo que os outros me contam
Era um caboclo espigado
Media terras, plantava
Vivia a lida de gado
Gostava de uma viola
Contava modas caipiras
E divertia aos amigos
E até dançava catira
Fazia longas viagens
E numa dessas viagens
Meu jovem pai se feriu
E foi ficando entrevado
E numa cama caiu
E eu fui crescendo ao seu lado
Igual pequeno aprendiz
Meu pai sofria calado
Mas era um homem feliz!
E foi assim que aprendi
O que o Santo Livro diz:
Que "Ter problemas na vida,
Não é ter vida infeliz".
Que "Ter problemas na vida,
Não é ter vida infeliz".
De minha mãe, eu me lembro
Que um dia não mais andou.
Foi um marítimo bem longo
Porém jamais reclamou
Pelo que os outros dizem
Fora uma jovem faceira
Trazia um riso no rosto
Jeito de moça mineira
Casou com José Fernando
E se chamava Divina
E se tornou costureira
E era muito igrejeira
Puxava longas conversas
Rezava muito e sonhava
Passou o tempo e nem viu
Também ficou entrevada
E a dor também a feriu.
Fiquei mais padre ao seu lado
Me fui fazendo aprendiz
Numa cadeira de rodas
Ela sorria feliz.
E foi assim que aprendi
E não esqueço jamais
Eu tive pais entrevados
Mas o meu lar tinha paz
Eu tive pais entrevados
Mas o meu lar... tinha paz...!
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