Prodigio

Castelo de lata

Prodigio
Tá cada vez mais difícil
Não ser um bajulador
Tá-se a tornar impossível
Essa vontade de roubar
Tá-se a tornar invencível
E o medo tá-se a tornar invisível

Será que um gajo tá a ficar insensível?
Roubo ou morro de fome?
Isso nem é discutível

E a vida cada vez menos acessível
Agora não temos arroz
Por causa do combustível

Como é que vamos ter sonhos de ser pilotos?
Se os sonhos voaram e os nossos heróis estão todos mortos
E o nosso passado todo torto
E no nosso presente mais abortos

Pra quê ter filhos sem ter como sustentar?
Pra quê falar de livros, sem carteiras pra sentar?

O país não pode ser rico, se a riqueza é só tua
Como é que vamos ter hotéis
Se ainda dormimos na rua

Que os nossos sonhos não morram
Num castelo de lata (de lata, de lata)
Porquê fugir da morte
Se essa vida nos mata (nos mata, nos mata)
Não é justo quem semeia amor só colher desgraça (desgraça, desgraça)
Então que Deus proteja o meu castelo de lata (de lata, de lata)

Pra quê estudar
Se nem temos emprego
Como descansar
Se nem temos sossego

Quer dizer, alguns de nós
Até têm emprego
Mas ninguém fala de salários
Até parece um segredo

Tá atrasada tanto tempo
Eu já nem sei se chega
E quando chega não é suficiente

Nunca chega
É muita perda
Muita queda
Sem esperança de vitória
A luta é incerta

Nos enganaram com
Fatos e gravatas
E comeram o nosso dinheiro
Com garfos, e essas facas todas
E agora sem essa paca toda
Lá se foram as vacas gordas

Até parece que, o povo é que estraga
Agora não há dinheiro
E o povo é que paga
Tantos castelos de lata na cidade

Queres o povo feliz?
Vende o teu castelo de verdade

Que os nossos sonhos não morram
Num castelo de lata (de lata, de lata)
Porquê fugir da morte
Se essa vida nos mata (nos mata, nos mata)
Não é justo quem semeia amor só colher desgraça (desgraça, desgraça)
Então que Deus proteja o meu castelo de lata (de lata, de lata)

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