Do fundo da cuia

Numa cuia
cabe o pão de cada dia
também cabe a mão vazia
dos que pedem pra comer

Cabe as sombras
cabe a luz pelas alturas
sol que vem da noite escura
mãe de todo amanhecer

Numa cuia
cabê o voo dos passarinhos
também cabe nos caminhos
quem não sabe caminhar

Cabe a dor
cabe o dom dos cantadores
pelo chão cantando flores
sem espinhos no olhar

Numa cuia
cabe a luz dos olhos teus
Numa cuia
cabe a luz dos olhos meus

Numa cuia
cabe as cores da paisagem
cabe passos pela margem
caminhando em comunhão

Cabe a arte
como traços de criança
cabe o verde da esperança
de uma nova floração

Numa cuia
cabe um barco em mar aberto
cabe a sede do deserto
cabe todo o azul do mundo

Cabe o tempo
cabe as águas do passado
cabe o céu desemborcado
flutuando lá no fundo