Ritual de sangue
Realidade cruelMais um fim de semana, maluco
Chega, nao quero mais ver
A parte pobre morrer na mira da policia
Sem explicação, sem punição pra esses homicidas
Droga e butecos não faltam na periferia
É diversão pra viciados, cachimbo usado noite e dia
Pode crê, que aqui eu tenho aliados,
Mas tenho uma pá de traíras não sou um otário
Não devo nada a ninguem, respeito é bom sei que tem
A vida no crime, é foda, não é pra quem revólver tem
Aí ladrão, fui a um churrasco na goma dum mano
Só sangue bom, tinha na festa várias cervejas
Rolando um rap nacional pra rapaziada
Só alegria, estamos fartos de muita desgraça
Treta, morte, puta que pariu! Uma pá de tiro, não sei se você ouviu
A uma quadra dali, o sangue escorre pelo asfalto
A viatura sai fora, mais um mano deitado
E mais uma mãe que chora,
Assim que sempre funciona, polícia destrói a favela
Realidade cruel, a vida não mente, mano te alerta
Nao é mudando de assunto, se ligue nessa,
Aqui em um instante, parei, porra, vou refletir,
Dois aliados em um escort que passou por mim
Em menos de uma hora já se ouve os comentários
Naquele escort mais um mano todo perfurado
Tiroteiro com a polícia, vai vendo
Puta bang-bang na avenida e um corpo num terreno
Mais um jovem humilde no crime, sangue bom,
Pai de família, mas não tinha outra opção
Ex-detento arrependido, sem trampo, fudido
Mais uma vítima dos filhos da puta, então
Esteja em paz reginaldo, longe dos policiais,
PM vai morrer porque ladrão não fica pra trás
Eu nao sou santo, e sei do que estou falando
E vivo cara a cara com o crime,
Só que aqui a polícia continua matando
É o cotidiano, na hora do enquadro chegam atirando
(Ritual de sangue
Ato criminal,
Cerimônia da periferia
Aqui o destino é fatal)
Vejo uma pedra em cima de um cachimbo derretendo
E no meio da fumaça o sonho se desfazendo
É tarde da noite, uma tenebrosa quebrada
Um vai e vem na bocada, uma viatura apagada
É uma da madrugada, o moleque ali sentado
Olhando lá pro céu com os olhos arregalados
Eu aqui dentro do carro, mano, ganhando a cena
Filmando o movimento, maluco, mas que tristeza!
Ontem à noite antes de dormir, lembrei da notícia
Um grande amigo de infância que foi exterminado pela polícia
Toda vida, seu sonho voltar a trabalhar
Fazer uma família com sua mina e assim casar
Difícil ver um cara jovem, um pensamento bom
Bem de familia, humilde, honesto e bom de coração
Era sabadão, o ladrão passava montado,
Dinheiro no bolso, cerveja, mulheres nos carros
E a carteira desse mano sempre estava vazia,
Só o RG e uma intimação pra ir pra delegacia
Depor o crime terça-feira que não comenteu
O cara nunca roubou, ele jurava por Deus
Injuriado, sem dinheiro nem pro cigarro, ladrão
Dizendo que o mundo do crime seria sua solução
Não é bem por aí mano, seja mais esperto,
Aonde voce vive, voce está bem perto
Do crime, da cadeia, do cemitério também
Muitos só vê o lado bom, lado ruim nao se vê
Dinheiro, drogas, pra quem gosta, putas, prazer
Uma pá de camarada colando com você
Mas quando a casa cai, é onde vai perceber,
Nem um cigarro, ao menos um salve é raro
Alguem lembrar de você...
Se liga aí maluco, vai minha idéia
Não quero visitá-lo um dia em uma cela
Ou ir a um velório e ver a sua mãe chorar
Sangue bom, estou tentando só te alertar
(Ritual de sangue
Ato criminal,
Cerimônia da periferia
Aqui o destino é fatal)
Naquela goma, madrugada em claro, ninguem consegue dormir
No coração da mãe aquele presentimento ruim
Todos ali preocupados, se ouve varios desparos
Fim de semana é normal, homicídio na hora do enquadro
De manhã cedo, amigos, todos ali aglomerados
Eu logo percebi maluco não me ouviu,
Fui em frente à goma dele, a mãe diz que ele sumiu
Nunca dormiu uma noite longe de casa
A viatura encosta, um PM com sangue na farda
"Minha senhora, aqui morava fulano de tal?"
A velha chora em frente a um assassino frio, ser irracional
"Seu filho foi baleado numa perseguição
É a desculpa de sempre, "Nao é por nada não,
Seu filho era ladrão, que profissão!"
Pra eles só mais um no caixao
Todo crivado de bala, PM tem munição de sobra
Para matar nossos irmãos aliados
Ratos otários, fardados, filhos-da-puta, arrombados
E na calada muitos morrem sem saber por que
Eles atiram sem dó, você pode se fuder
Mantenha distância, ou vai esperar pra ver,
Seu sangue escorrer?
Aqui quem fala é Flagrante,
Foi meu conselho de irmão pode crê
Aí ladrão, aqui quem fala é os manos:
Douglas, Bolha, Keno, Flagrante
Realidade Cruel
(Ritual de sangue
Ato criminal,
Cerimônia da periferia
Aqui o destino é fatal)
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