Sam the kid

Abstenção (a.k.a)

Sam the kid
Avó de Sam The Kid:
Ele em mim não manda nada
Porque ele é um ordinário que não presta pra nada pra mim
Mas digam-lhe isso a ele mesmo
Ele pra mim não conta pra nada porque ele é uma merda
Ele não percebe nada disto
Ele só está aqui pa carregar ordens
Mandar? Não
Trabalhe!

O povo, unido
Jamais será vencido

Yeah, não sou licenciado nem recenseado
Com paciência, há-de aparecer alguém credenciado, com moral
Que me faça votar, me faça lutar, me faça notar
E faça escutar a campanha eleitoral
Por enquanto é só comédia, money manipula os média
Que se excedem a assustar o nosso povo com medo
Eu não voto, eu boicoto urnas, queria horas nocturnas
Sei qu'é o meu futuro, mas não vou acordar cedo
Pa pôr um voto nulo ou eleger um chulo ou um cherne
Ou quem governe só com charme mas num mês dá um terno
E tropeçam, mal começam quando quebram a promessa
Não me peçam interesse, vocês não se interessam
Eu não preciso de reflexão eu já, tou decidido
Eu só voto na verdade e não a vejo em nenhum partido
A minha previsão é o privilégio garantido
Para um puto no colégio neto de alguém conhecido

E eu sou a percentagem que a sondagem nunca mostra
Eu sou a mente exausta da miragem mal composta
Eu sou a indiferença e a insatisfação
Eu sou a anti-comparência, eu sou abstenção

Pra muitos é defeito, é de facto imperfeito
E o respeito vem de fato pó eleito logo
Pra mim é mais um cromo que só me vai dar um défice
Só me vai dar a fome quando eu só quero é peace
E eu levo isso a peito, esse apelo é saloio, nao se apoia, eu sou
Conforto no aborto de liberdade de escolha, mas só
Oiço é palavras sem ações, ponham uma rolha
E acabem co'a brincadeira, putos arrebenta a bolha
A linguagem não é crua e tendo mais remorsos
E eu nunca vos vi na rua a não ser em outdoors
Ou d'urso, o discurso é coincidência
Todos querem presidência pa ter nova residência
É a minha impressão, o meu desabafo
Neurônios memorizam na televisão toda a gaffe e o staff
Limpa-vos a boca dos beijos que não convencem
Vocês vencem, já não pertencem ao povo, pensem um pouco
E comecem do início, de novo
Alterem e tirem (o sacrifício do povo)
E eu devolvo a indiferença pa foder partidos e blocos
Eles é que tão em alta, a gente anda aqui a contar troços

Tu és justiça postiça que nos pisa a voz
É o que nos diz a pesquisa dos bisavós
Alguns dizem que o povo unido
Não será vencido e aí não duvido

Avó de Sam The Kid:
O meu pai era um homem inteligentíssimo
Não devia nada a estes cabrões deste filhos duma puta
Porque é qu'eles estudaram e eu não estudei?
Porque é qu'eles têm mais estudos do que eu?
Ai não sabes, porque já os pais deles eram mais
Ladrões qu'o meu

Interlúdio:

Jornalista:
E temos também aqui algumas pessoas que
Trabalham dentro da prisão
E ainda não tiveram oportunidade de trabalhar lá fora
Quando vê os seus colegas todos os dias saírem
Fica com vontade também de sair?

Entrevistado:
É assim, eu fico com vontade de sair só que a minha situação
É diferente da dele porque eu não sei se vou poder beneficiar do ravé
Porque a minha pena é pequena e falta-me pouco tempo
Mas é bom, é bom ver isto e é bom que mais meus companheiros
Qu'aqui estão e têm penas maiores possam beneficiar disso
E tanto, temos estado a ver pelas, as pessoas
As celebridades que tão aqui hoje
A Ministra da Justiça, o Sr. Presidente da câmara de Sintra

Jornalista:
Mas não fica com um pouco de inveja todos
Os dias quando os vê sair?

Entrevistado:
É assim, não podemos, não podemos ir por aí
Não podemos utilizar esse termo de inveja
Porque é bom isto acontecer porque além do mais
Deles começarem-se a reinserir na sociedade, tão a começar a despertar
Tão a começar a acreditar qu'existe outra coisa, que a vida é boa
E a gente vem, vem dum
Támos habituados a um mundo de lá de dentro
Que é totalmente diferente deste
E sendo assim, a gente consegue começar a ter mais expectativas
Começar a aproveitar melhor a vida

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