Sérgio godinho

Visita guiada

Sérgio godinho
Vinde à visita guiada
à esburacada
encruzilhada do amor
Cada qual sabe de cor
(Ninguem tem nada com isso!)
em que ponto de que dor
se arrisca a cauda na estrada
(É connosco o compromisso)

Já se avista
o amor, mas se o ciúme
em contra-mão se desloca
choque em cadeia provoca

Pega fogo num instante
mas adiante
apaga o lume
que é vital dentro da toca

E depois ninguém assume
estar por conta do ciúme
no lusco-fusco desta toca

Vinde à visita guiada
à esburacada
encruzilhada do amor

Agora vem
o amor, mesmo inocente
tem a inocência vigiada
faca na liga de decência

São desvios
se se está na rua errada
à hora errada
sexo errado, idade errada
são desvios da aparência

Mas já se sabe:
os suores quentes
causam em bastantes gentes
suores frios
arrepios
são feitios
são bafios!

Vinde à visita guiada
à esburacada
encruzilhada do amor
Cada qual sabe de cor
(Ninguém tem nada com isso!)
em que ponto de que dor
se arrisca a cauda na estrada
(É connosco o compromisso)

Ora aí vem
o amor
e as suas atrocidades
o amor
e as suas felicidades
o amor
e as suas sacaneidades
e utros ades
e virtudes
"hádes ver!
nunca mudes
não me dês agora um beijo
e capo rente o teu desejo"

Eis que chega
o amor, tem casca grossa
quando à tarde nos fascina
o amor tem casca fina
quando à noite nos destroça
e de manhã repõe promessa
assim que roça, assim que empina
junta corpos peça a peça

Vinde à visita guiada
à esburacada
encruzilhada do amor

Olha ao longe
o amor
avança e trava incontrolável
o amor
consequência do improvável
o amor:
ainda é possível avistar
num tronco, dois corações
sangues verdes, inscrições
em sequoia venerável?

Vinde à visita guiada
à esburacada
encruzilhada do amor
Cada qual sabe de cor
(Ninguém tem nada com isso!)
em que ponto de que dor
se arrisca a cauda na estrada
Cada qual sabe de cor
(Ninguém tem nada com isso!)
em que ponto de que dor
é connosco o compromisso
(Ninguém tem nada com isso!)

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