Café da manhã
Vitor ramil
Ela vem pra mesa de manhã
Põe na taça um pouco de café
Ela pega o leite que eu fervi
E enche a taça tanto quanto der
Sem me falar
Sem me olhar
Põe açucar no leite com café
Mexe bem devagar com a colher
Bebe tudo com a calma que não tem
Não me olha
Não diz nada
Põe na taça um pouco de café
Ela pega o leite que eu fervi
E enche a taça tanto quanto der
Sem me falar
Sem me olhar
Põe açucar no leite com café
Mexe bem devagar com a colher
Bebe tudo com a calma que não tem
Não me olha
Não diz nada
Ela esquece o gosto do café
Põe os olhos vagos no jornal
Ela pega a parte que eu já li
E abre como um muro entre nós
Sem me falar
Sem me olhar
Pega e acende um cigarro teatral
Solta anéis de fumaça pelo ar
Bate a cinza com a calma que não tem
Não me olha
Não diz nada
Tudo o que ela quer
É me ver chorar
Mas chorar de manhã
É tão fácil
Eu quero é mais
Ela sai da mesa do café
Põe no espelho a cara e se acha bem
Ela veste um lance pra sair
E por cima a capa que eu dei
Sem me falar
Sem me olhar
Abre a porta num gesto natural
Olha a rua, olha as horas, olha o céu
Sai na chuva com a calma que não tem
Não me olha
Não diz nada
Tudo o que ela quer
É me ver chorar
Mas chorar de manhã
É tão pouco
O que eu quero é mais
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