Fado tropical
Zélia duncanTe deixo consternado no primeiro de Abril
Mas não sê tão ingrata, não esquece quem te amou
Em tua densa mata, se perdeu e se encontrou
Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Sabe no fundo eu sou um sentimental
todos nós herdamos no sangue lusitano
uma boa dosagem de lirismo além da sífilis, é claro.
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas
em torturar esganar trucidar
meu coração fecha os olhos e
sinceramente chora".
Com avencas na caatinga, alecrins no canavial
Licores na moringa, um vinho tropical
E a linda mulata com rendas de Além-Tejo
De quem numa bravata arrabata um beijo
"Meu coração tem um sereno jeito
e as minhas mãos o golpe duro e presto
de tal maneira que depois de feito
desencontrado eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre a intenção e o gesto.
E se meu coração nas mãos estreito
me assombra a súbita impressão de um incesto.
Quando me encontro no calor da luta
ostento a guda empunhadora à proa.
Mas o meu peito se desabotoa
e se a sentença se anuncia bruta
mais que depressa a mão executa
pois que senão o coração perdoa.
Guitarras e sanfonas, jasmins, coqueiros fontes
Sardinhas mandioca num suave azulejo
E o rio Amazonas que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca deságua no Tejo
Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
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