Herança do boi soberano

Já faz mais de trinta anos
Que esse fato aconteceu
Um boi preto criminoso
Salvou um amigo meu

Quando ele era criança
Despercebido brincava
Despercebido brincava
Numa rua de Barretos
Quando a boiada passava

A boiada estourou, ai
E foi desaglomerando
Vindo lá de Mato Grosso
Seiscentos bois cuiabano
Dia, noite e madrugada
Os peões cortando estrada
Trazia o tal Soberano

Lá naquela redondeza
Esse boi era respeitado
Por ter matado João Preto
Um peão muito afamado

Me contou essa história
Relembrando seu passado
Deixei minha faculdade
Para trabalhar com gado

Hoje sou um boiadeiro
Meu destino foi traçado
Me tornei um berranteiro
O melhor do meu estado
Todo concurso que fui
Trouxe medalha, dinheiro
Sempre fui classificado

Num concurso que eu fui
Na cidade de Cuiabá
Quando recebi o prêmio
Comecei logo a chorar

A plateia me aplaudia
Os jurados me abraçavam
O meu coração doía
Quando a tragédia eu lembrava

E naquela ocasião, ai
Surgiu um homem bem trajado
Meu filho, conte a sua história
Você está emocionado
Eu sou aquele menino
Numa rua de Barretos
Por um boi eu fui salvado

Me abraçou aquele homem
Com um gesto de carinho
Vi que era tão humano
Foi me dizendo baixinho

Sou seu pai e tenho orgulho
Não te vejo há muitos anos
Quando abandonei a família
Te deixei com sete anos

Quero contar pro senhor, ai
Sou berranteiro do ano
Conquistei muitas medalhas
Desde a idade de quinze anos
Papai, lhe dou de presente
Esse berrante valente
Do chifre do Soberano