Boêmio (depois dos arcos ii)
Amélia rabelloAndar a esmo pra nenhum lugar
Ver as meninas por prazer de olhar
De um canto de esquina ou de um balcão de bar
Sempre me esbarro com mais um xará
Filo um cigarro e volto a caminhar
E na fumaça que some no ar
Deixo a imaginação voar
Eu gosto da ronda da noite que tem luar
No subúrbio distante ou na beira do mar
O vai e vem dos amantes num hotel vulgar
Os vitrôs de um bazar
Na paz do silêncio da noite é tão bom pensar
E eu também gosto de assoviar
Uma canção p'rum coração
Que vive de ilusão sonhar
Eu gosto muito é de poder prosar
Qualquer assunto que alguém puxar
Um breve encontro por aí, sei lá
No ponto dos músicos ou no bilhar
Sangue boêmio eu sinto em mim pulsar
Acho que é um prêmio seu eu souber levar
Torço pra noite de lua chegar
Pois sinto a rua me chamar
Eu gosto do que já faz parte, já
O pregão do jornal, o cordel popular
Os malandros, os bêbados, o "trotoir"
Vida de "Deus dará"
Também faço parte da noite e quando eu passar
Se quiserem eu posso cantar
Uma canção p'rum coração
Que vive de ilusão chorar