Amnese

O egoísta e a fuga

Amnese
Acordei em uma manhã cinza e o café rebate a ressaca do
outro dia, a luz fraca, a janela escondia, que ontem
foi uma noite vazia. Meu generoso egoísmo que me fez
andar a noite toda no frio, a garrafa vazia ficou no
chão, embriaguei a minha solidão. Mesmo assim, nada
mudou, acordei do mesmo jeito que dormi, e a vida vai
juno ao vento que traz a chuva gelada que cai em mim.
E a minha mesquinhez lhe trouxe a dor do afeto inepto,
sem ter do que dispor, meu eu que é maior do que há em
mim, com falsas palavras eu me escondi e fugi.
Arrasto-me pelo quarto, lamento o dia do meu parto
como consolo a uma noite ruim que atravessei com a
verdade de mim. Mas eu me escondi pra me encontrar e
dizer que o medo é o meu lugar, meus versos rasos não
são pra confessar que eu não sou eu e o meu eu aonde
está. E a minha lucidez me trouxe a dor das tréguas
não abertas, da mágoa que restou. Não sei o que é
maior, nem o que há em mim com falsas promessas eu
menti e fugi.
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