Saudade dos pagos
Antonio gringoDeixei por lá muita recordação
O meu cavalo, por nome Esperança
Que era toda minha estimação
Deixei também um apero completo
Que dava inveja no próprio patrão
Um par de rédeas de couro de pardo,
Um pala de poncho e dois pelegão
Deixei até uma lavoura plantada
Onde eu tinha dado a primeira capina
Eu deixei tudo, e não quis mais nada
Porque criei raiva de uma china
Eu deixei tudo, mas porém não ligo
Sei que não volto mais pro meu rincão
Estando distante não tem perigo
Que a china abrande o meu coração
Eu trouxe um laço de couro de pardo
É o que restou da minha profissão
Num entrevero de chinas bonitas
Eu quero dar uma demonstração
E qualquer dia eu tomo umas canha
Agarro meu laço e caio na farra
Já cato a china que tenha picanha
E dou-lhe um pealo velho de puxarra
Eu sou gaúcho, e acompanhei
Todas as voltas que o mundo requer
Meus interesses abandonei
O estado deixei por causa de mulher
Eu quero dar mais uns tiros de laço
Pra ver as voltas que meu laço faz
Depois então, eu descanso meu braço
E sossego, e não pealo mais