Fim de caboclo
Baltazar violeiroSua casa de madeira ele fez lá no sertão
O rego d'água trouxe lá da cabeceira
Fez a bica fez peneireira fez monjola e fez pilão
Acostumado sempre na vida roceira
Enfrentou a capoeira a peso do enxadão
Fechou a roça todo de arame farpado
Fez o pastinho pro gado e pro cavalo alazão
Ali pra muitos não passava de um deserto
Por não ter vizinho perto nem asfalto na estrada
A sua luz era o azeite na candeia
Que tão pouco clareia lá na trave pendurada
Seus companheiros era apenas seus cachorros
Latido no pé do morro pra espantar a bicharada
Mais o teu rancho feito ali no pé da serra
Era mesmo céu na terra e só faltava a sua amada
Fim de semana chapéu novo e cinturão
E no areio do alazão sua baldrana amarela
Quase oito léguas sempre de macha batida
Pra ir ver sua querida na distante currutela
E só voltava quando era madrugada
Trazendo da sua amada ainda mais paixão por ela
Sempre sozinho mais feliz fazia planos
Porque no final do ano iria se casar com ela
Um certo dia foi rever seu grande amor
Mais só tristeza encontrou vendo a casa abandonada
E um aviso pra findar sua ilusão
Foi escrito com carvão na porteira da chegada
Dizendo a ele tomei esta decisão
Porque no meu coração outro alguém já fez morada
Sei que com ele vou ter mais luxo e conforto
Mas se eu fiz seu sonho morto, perdoe-me se eu fui culpada
Primeira vez que este homem forte e matuto
Vestiu seu mundo de luto e lágrimas jorrou ao chão
E do seus lábios um sorriso amarelo
Bateu forte igual um martelo no seu pobre coração
Amargurado e triste voltou pra casa
No seu peito virou brasa as letras feitas com carvão
Viu o abandono foi te consumindo aos poucos
No final este caboclo morreu de tanta paixão