Bruno ribeiro marques

Antagonista

Bruno ribeiro marques
Eu sei que eu tô fora de moda
Barriguinha de chope incomoda
Prejudica o visual
Mas eu não sou de ir à academia
Ficar ouvindo música da Bahia
Fazendo abdominal

Você me diz que eu sou estranho
Que minha esquisitice não tem tamanho
E ao mundo eu tenho que me adaptar
Só porque eu não namoro vitrine
Shopping Center me deprime
Fast food me faz vomitar

Mas sei que nada disso importa
Personalidade morta
É o que recheia nosso belo corpo social.
Amputam todas as arestas
Me convidam pra essa festa
Mas parece que é meu funeral.
Tô mal

Eu sou a favor de tudo que é contra
Meu nado é de peito contra a onda
Escarro na cara do burguês

Eu boto fé é na minha descrença
Religião é uma grave doença
Um veneno pra minha lucidez

Não gosto de praia, não vou pra boate
Sou um animal fora do habitat
Quando chega o carnaval

E o que me oferece essa sociedade
Frases feitas de publicidade
Tão falsas quanto um cartão postal

Mas sei que tudo isso é besteira
O que importa é a maneira
De como é que eu vou me comportar

O que eu sou fica de lado
Dentro de um terno apertado
Não sobra espaço nem pra respirar
Assim não dá

Tão podre, tão sórdida, tão decadente
Tão falsa que bebe aguardente
Pra arrotar uísque escocês

Igual uma azeitona em boca sem dente
Eu fico perdido no meio dessa gente
Onde brota e cresce a estupidez

Tô longe de tudo, tô fora do meio
Tô ficando puto, tô de saco cheio
Já não aguento mais tanta encenação

Tudo que se faz é tão descartável
A razão é uma boneca inflável
Pra ser usada só em momentos de solidão

O ser humano é um sapatinho
Desejando amor, desejando carinho
Querendo ser um objeto de toda atenção

Até ser trocado por outro
Por um modelo mais vistoso
Da nova coleção
Eu não

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