Desconstrução
Clara noite
Todo dia ela se faz na ida e se perde na volta
Todo dia ela se esvai
Todo dia ela se esvai
Deixando os seus pés na porta
Suas pernas na poltrona da quina da casa
O seu sexo no trinco
Seus seios no vazo
Sua cor e lábios na água corrente da torneira
Todo dia ela se perde em rastros
E eu me refaço, sigo juntando os seus cacos
Todos os pedaços
Unindo as peças dispersas
Pra que novamente ela possa ser ela
Escolhe suas pernas no armário vasto
Cheio daqueles rastros
Turbina o seu busto com o maior dos bojos
Aquele que a mim seduz
Pinta-se, colore-se, delineia os seus lábios
Em tons de vermelho fosco
Faz da orelha uma alegoria
Rouba o cheiro da noite
Cobre, descobre-se
Num movimento contínuo
Manejando a melhor das sedas lisas e floridas
Forja a sua cor
E num segundo se refaz
Assumindo a forma do meu amor
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