Quebrada desestruturada
Enigmas na fitaLiberdade e vida, liberdade e vida
O que eu vou ser quando crescer?
Eu não sei, deixa eu pensar
Mais um mendigo pra somar, ou talvez um beira mar
Revoltado com tudo, indignado com a vida
Porque a pátria amada mãe querida
Nos humilha pelo prato de comida
Poxa! Já tô cansado de todo dia mesma coisa
Poxa! De todo dia o mesmo caso, mesmo trabalho
Engraxa sapato, pedir trocado no semáforo
Esmola do caralho, rouba o meu sonho
Rouba minha infância, não me deixa ser criança
E do jeito que tá, vô me transformar ni uma maquina de matar
Porque roubar é mais fácil do que pedir
Humilhar é a mesma cosa de rouba
Tenho 11 anos e não sou daqui
Eu sou de lá do nordeste pra cá
Eu foi trazido, eu sou traduzindo
Menino mendigo nordestino
Vivendo aqui nesta merda de lugar
Num barraco feito de lona
Que nem sequer tem uma cama nem um colchão
Eu e meus irmãos só não dorme no chão
Porque a solução nós encontrô no lixão
Um papelão
Foi na sexta-feira, dia de compras no nosso mercado
E quem levou a geladeira jogou fora o descartável
E você ta com medo ou tá com nojo
É porque nos somos preto ou temos piolhos
E o corpo transmite uma visão de quem faz muito regime
Não, não nos badaga uma cola e cheira um tine pra esquecer do apetite
Pra esquecer do apetite
Moro na quebrada desestruturada
Meu colchão é um papelão, minha cama é uma parada
Eu moro na quebrada desestruturada
Lá não tem luz, não tem água
Lá falta tudo, não tem nada
Moro na quebrada desestruturada
Meu colchão é um papelão, minha cama é uma parada
Eu moro na quebrada desestruturada
Lá não tem luz, não tem água
Lá falta tudo, não tem nada
O pão de cada dia diariamente anda em falta lá em casa
Vamos lá no contêiner do Extra pra ver se acha
Alguma coisa pra se garantir
Porque a noite tá chegando e o frio também vai vir
É mês de julho, vento é gelado a noite toda
Às vezes a gente passa a madrugada dando várias badagada
E cantando o homem na estrada
Racionais ida loca
Acendo uma fogueira pra aquecer a mão dormente
E a lua clareia junto com as estrelas
Hoje eu não vi a minha cadente
É será que é nos que não presta?
Pra nós o natal não se comemora com festa
Ele começa com a dor depois termina com mais dor e agonia
Panela sem comida e barriga vazia
Enigmas traz a realidade da vida dos filhos que é criado sem os pais
Que não tem nem um trocado a mais
Que é pra toma água com gás
Nem no prato o estrato, potássio do bicarbonato sódio
E eu tô falando é do favelado
E você tá ligado, é óbvio
Nós somos brasileiros
E estamos narrando a vida sofrida do povo daqui
O que eu tenho a dizer é que
É encontro do rico, o encontro do riso
Na pista da cidade
Jogando bolinhas pra cima
Bochechando gasolina, 1, 2, 3 malabares
Só que quem nunca foi no circo não aprendeu a fazer isso
Só se alimenta ou mata o vício roubando ou pedindo
Meninos chamados de mendigos pedintes
Entra no mercado e sai expulso pelo gerente
Infelizmente pra muita gente não dá nada
Eu moro na quebrada desestruturada
Moro na quebrada desestruturada
Meu colchão é um papelão, minha cama é uma parada
Eu moro na quebrada desestruturada
Lá não tem luz, não tem água
Lá falta tudo, não tem nada
Moro na quebrada desestruturada
Meu colchão é um papelão, minha cama é uma parada
Eu moro na quebrada desestruturada
Lá não tem luz, não tem água
Lá falta tudo, não tem nada