Por acaso

Todo dia de manhã, via o filho subir no ônibus escolar.
Depois, pegava sua pasta e um emprego ia procurar.
Chovia forte naquela Terça-feira, não podia piorar,
Ele entrou em um bar pra esperar o tempo melhorar.

Comentou com o velho de branco que precisava trabalhar,
Que não suportava mais ver o filho de fome chorar.
O velho rindo, disse que todos só sabem reclamar
E que não adiantava nada afogar os problemas no bar.

O homem disse que só estava ali pra não se molhar,
o velho pegou suas coisas e foi indo pra outro lugar.
Isso foi como a gota que faz a água transbordar,
Empurrou o velho e foi embora antes de "estourar".

Um garoto magrelo ajudou o velho a se levantar,
O velho agradeceu e deu um dinheiro pra compensar.
Era o dinheiro que faltava pro garoto comprar
O crack que ele estava desesperado pra fumar.

O dinheiro do crack que aquele garoto foi buscar,
Era justamente o que faltava pro traficante se armar.
Porque queria matar um cliente que não queria pagar.
Foi atrás do cliente e atirou sem nada perguntar.

Mas, errou o tiro, acertou o vidro do ônibus a passar.
Dentro do ônibus, um garoto caiu e começou a sangrar.
Levaram o garoto ao hospital às pressas para operar.
Disseram que só um milagre poderia o salvar.

O pai do garoto baleado foi chamado para estar
Perto de seu filho, quando ele voltasse a acordar
E a infermeira avisou que ele já podia entrar
Na U.T.I. pra ver o filho que mal podia respirar.

E chorou ao ver que filho estava bem e ia se recuperar,
Procurou o médico que salvou o garoto pra cumprimentar
Quando viu quem era o médico se assustou e perdeu o ar
era o mesmo velho de branco que tinha empurrado no bar.