Fabricio fbc

Cimento e lágrimas

Fabricio fbc
Amou daquela vez
Como se fosse a última
Beijou sua mulher
Como se fosse a última
E cada filho seu
Como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e lágrimas
Dracmas do cuzão no suco
Curtindo pacas litoral do Pernambuco
Esmola, cesta básica
Pela desgraça física
Sua ambição faminta
É tão nítida, só visa lucro
Nasceu pobre, zuar é prejuízo
Manda quem pode
Obedece quem tem juízo
Não senhor, sim senhor
É sempre humilhante
Quem não se adapta tá no crime
Ou de aviso
Fácil não tá queixa
Sem profissão, queixa
Quer estudar
Mas chega tarde o corpo não deixa
Como disputar emprego com playboy
Acorda tarde, faculdade, casa própria, herdeiro de merda
A empreiteira cobra produção, passagem, café
Suas horas calado em pé
Pra no acerto te roubar, pronto
Sujar sua carteira em três meses por apenas 700 conto
A nova escravidão te dá PIS
FGTS, diz
Morrer por nada te faz feliz?
Oportunidade só se for na boca, aos 13 o primeiro diploma
Tatuagem: Vida loka
O mal estar entregue, a paz acesa trague
Por me deixar a margem aceite meu Deus lhe pague
O mal estar entregue, a paz acesa trague
Por me deixar a margem aceite meu Deus lhe pague

Por esse pão pra comer
Por esse chão pra dormir
Deus lhe pague
Por me deixar respirar
Por me deixar existir
Deus lhe pague
A certidão pra nascer
A concessão pra sorrir
Deus lhe pague

O desgraçado do poder
Me trata como lixo orgânico
Amontoado no Ceresp
Mais um número
Pratico aborto
Corpo indigente
Infelizmente essa é BH
Eu e mais dois no túmulo
Mesmo sem querer
É fácil se envolver
A necessidade pede
Não, não, não te manda resolver
Revolver, saída
Seu filho quer comer
O aluguel tá atrasado
E o adianto é botar pra foder
Vai na lan house base fraca
Na carta de trabalho
Servente, currículo ridículo
Sem Pitágoras, amargarás canteiros
Seis meses meio oficial
Será que um dia eu viro pedreiro?
Talvez porteiro na loja de Leroy
Pé de porco defendendo o patrimônio do playboy
Na porta da boate
12 hora por noite
Baba do cracker
Muito louco de bala e de doce
Bem aquilo que o Edi quis falar
Ninguém vê sair
Ninguém escuta chegar
Não sei qual é pior
A coragem ou medo
Viver do tráfico ou ter que acordar cedo
Azedo mentalmente, corpo calejado
Ganhando o boy na repsol
357 cano refrigerado
Eu também só queria um terreno no mato, sem luxo, descalço, mas não
Aqui pra ter um lugar eu tenho que trocar com o choque
Armado até os dente na treta da reintegração
O Brasil não me dá opção, saúde, educação digna
Instrução ou qualificação básica, trágica visão, lástima
Me deixaram entre a boca e a construção
Cumbuca sem mistura, só arroz e salame
Vertigem dá fraqueza, outro que cai do andaime
Este é o mórbido índice
De quem come feijão com arroz como se fosse um príncipe, han
Isso me deixa puto, por minha caía o centro administrativo, não o viaduto
Dá vontade de surtar pra justa causa me lixar
Entrar no office de boxe na puta do RH
BH um grande canteiro de obras, no topo Demolays
Na base massa de manobra
Vista por esse ângulo
Se depender de mim sua pirâmide vira um losango

Por esse pão pra comer
Por esse chão pra dormir
Deus lhe pague
Por me deixar respirar
Por me deixar existir
Deus lhe pague
A certidão pra nascer
A concessão pra sorrir
Deus lhe pague

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