Eterno domingo
Fernando tordoNesse primeiro andar com sacadas
Que aos domingos os dois de mãos dadas
Ensaiávamos a valsa da vida
Essa valsa
Eu pisava-te e sentias medo de estragares os sapatos
Que tu tinhas comprado em segredo
Era um bairro cheio de vento e de sombra no passeio
Tinha medo que me achasses feio
E comprei brilhantina no barbeiro que sorriu
E depois fez tudo quanto pôde para fazer a barba
À penugem que era o meu bigode
E a tua boca que sabia a baton roubado à tua mãe
E às pastilhas de hortelã-pimenta que eu te dava
Soube-me sempre àquele gosto que só tem a manhã
Que se bebe na roseira brava
Era um tempo que sabia a groselha e a gelado
Aos domingos os dois braço dado
Ensaiávamos os passos da vida
Essa vida em que juntos depois descobrimos que afinal
Tudo aquilo é o mesmo que hoje os dois sentimos
Era um bairro cheio de verde e de sombra no passeio
Tinha medo que me achasses feio
E comprei brilhantina no barbeiro que sorriu
E depois fez tudo quanto pôde para fazer a barba
À penugem que era o meu bigode
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