Barranca e destino
Flávio hansenNamorava a correnteza
Do rio de duas nações
Estrada da natureza
Meu pai cruzava lá longe
Não mais que uma mancha branca
Eu que tremia de frio
De tanto olhar o rio
Me fiz parte da barranca
O meu pai foi pescador
Balseiro e contrabandista
O rio foi sua morada
E a vida sua conquista
Minha mãe lavava roupas
Até o sol se esconder
Eu que por ali andava
Ao rio me acostumava
Pois dele iria viver
(Meu pai ia pro trabalho
Movido pela esperança
De uma vida melhor
Pra mulher e a criança
O grande sonho do velho
Era que eu fosse doutor
Ele foi o meu espelho
Não segui o seu conselho
E hoje sou pescador)
A vida de peão costeiro
A ninguém eu recomendo
O que não sofri na infância
Agora estou sofrendo
Os anos foram passando
Muita coisa aconteceu
Foi-se a minha ilusão
Hoje é só preocupação
Pois agora o pai sou eu
Moleque de calças curtas
Namorando a correnteza
Do rio de duas nações
Estrada da incerteza
Meu filho lá na distância
Não mais que uma mancha branca
Eu cá no meio do rio
Sinto no seu assobio
Parte de mim na barranca
(Meu pai ia pro trabalho
Movido pela esperança
De uma vida melhor
Pra mulher e a criança
O grande sonho do velho
Era que eu fosse doutor
Ele foi o meu espelho
Não segui o seu conselho
E hoje sou pescador)