Gog

O grande dia

Gog
História incrível, vou contar pra vocês
Teve início ao final do nono mês de gravidez
Daquela pobre bela jovem que se envolveu
Nasceram gêmeos, a dificuldade bateu
Deu nome aos dois e decidiu entregar um só filho que logo partiu
Pro colo da outra, que ela nem viu
Enfim, desejou o fim
Perguntou pra si: Por que essa dor sobrou, sem dó, pra mim?

Chora tristeza de viver assim

Anos depois num bairro da periferia
Seu filho corria pelas ruas e crescia
Em dose dupla, aquele pivete ela amava
Cópia do outro pelo outro, sempre rezava
Mas a labuta diária pela sobrevivência
Não a deixou cuidar da sua adolescência
Má influência, deu no que deu, se envolveu
Por anos vendeu até que o ponto passou a ser seu
O que ninguém, nem o mais nobre mortal, imaginava
É que perto dali, na quebrada rival
Com fama de mau, no banquinho da praça central
Seu outro filho também já era profissional
Acabara de saber após a discussão
Não era filho legítimo, não, fruto de adoção
Revolta, desilusão, você tem noção?
Dispara o coração, veio na mente a questão
Onde andarão minha mãe e meu irmão?
Sou refém, alguém fez papel de vilão
Quero ouvir dela a explicação, o porquê dessa situação
Só sei que aqui não fico mais
Porque não me contaram antes, isso não se faz
Tiveram todo tempo do mundo
Vou correr atrás pra ter paz
Tô confuso demais, deixa eu pensar

Vou pelas noites a vagar

Mesmo rosto, idade, diferentes personalidades
Rômulo, imperador remo, articulador
Ambos planejavam ampliar o negócio
Imitando a mitologia, não queriam sócio
Rômulo pelos bares, becos e vielas
Atendendo, recebendo sua clientela
Remo reclamava pra mãe da falta do irmão
Falava por amor ou por premonição
Já era bem tarde quando saiu do escritório
Decidido a ampliar o seu território
Esbanjando confiança e alegria
Havia chegado finalmente o grande dia
No domínio do inimigo, estranhou os cumprimentos
Pensou em recuar, já não dava tempo
Sabia o nome, onde estava o adversário
Que não fará mais aniversário
Colocou uma máscara, foi de arma na mão
Rumo a última e conhecida cena da missão
Gritou pelo nome
Quando rômulo virou, remo desacreditou
Rômulo atirou
Estampidos ouvidos da pistola destravada
Sem a chance de falar nenhuma palavra
O corpo quente, olhos bem abertos, estirado
Todos corriam, queriam ver a cara do finado

A loucura tomará conta de mim

Os irmãos vão se encontrar
Rômulo foi, tirou o capuz
Vendo o rosto do irmão, perdeu toda luz
Havia encontrado quem há anos procurava
Engatilhou, puxou o gatilho, sua vida acabava
Abraçado ao corpo do irmão na posição da gestação
Toda comunidade chorava de emoção
E sandro correu pra comprar o jornal e ler
A história dos gêmeos que morreram sem se conhecer

Pois é, pois é, sigo sonhando
Irmão pelo irmão, favela pela favela
Só assim o jogo das nossas vidas virá
Sofrimento passado pro presente, aprendizado duro
Não nos fará odiar o futuro

Encontrou algum erro na letra? Por favor envie uma correção clicando aqui!