No sertão falta Água para o gado porém sobra nos olhos do vaqueiro
Ivanildo vilanova e raimundo caetanoSofrem dois elementos de uma vez
Falta líquido pra língua de uma rês
Chovem gotas dos olhos do matuto
Ser humano padece, sofre o bruto
O segundo bem mais que o primeiro
Se dos olhos caísse um aguaceiro
O problema estaria saneado
No Sertão Falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro
É assim lá na terra sertaneja
Bicho e gente sofrendo a mesma mágoa
No olhar do vaqueiro sobra água
Mas a bomba celeste não despeja
Quem aboia e campeia não deseja
Ver o gado com sede o ano inteiro
Nem o gado quer ver seu companheiro
Em um rio de lágrimas sufocado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro
Dá um nó emotivo na garganta
quando a época da chuva vai embora
Sobra lágrima nos olhos de quem chora
Falta água na cova de quem planta
Se dos olhos cair não adianta
Que não enche cacimba e nem barreiro
Cresce mais a angustia e o desespero
Vendo o bicho sofrer sem ser culpado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro
No sertão muitos sofrem sem motivo
E eu não sei se merecem sofrer tanto
Falta chuva no céu sobra no pranto
De quem cuida do gado inofensivo
O vaqueiro agradece ainda estar vivo
Personagem de um drama costumeiro
Vendo o sol afastar o nevoeiro
Alvejar criação, pessoa e prado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro
Se repete esse drama no sertão
Fortaleza abissal dos aperreios
Os olhares humanos estão cheios
Mas os rios e poços não estão
Uma gota do céu não cai no chão
Ressecando inda mais o tabuleiro
Muge o boi mas da água nem o cheiro
Chora o homem com pena do coitado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro
O trovão com a voz estrepitosa
Nas encostas do céu se locomove
O relâmpago aparece mais não chove
Que irrigue o pistilo de uma rosa
A promessa de chuva é enganosa
Só o choro do homem é verdadeiro
Quem mais sente é o vaqueiro e o fazendeiro
Vendo o gado sedento e castigado
No sertão falta água para o gado,
Porém sobra nos olhos do vaqueiro
Um vaqueiro soluça de manhã
Sem ter água no poço ou na cascata
Anda até seis quilômetros com uma lata
Perde as forças na aventura vã
Vê tombando de sede uma marrã
Uma vaca uma cabra ou um carneiro
E um garrote pertinho de um facheiro
À Espera do líquido esverdeado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro
O sertão vive cheio de armadilhas
É um palco de cenas ruins e boas
Descem Lágrimas dos olhos das pessoas
Falta líquido no cocho das novilhas
Esqueletos de bichos sobre as trilhas
Muitas vítimas de um clima traiçoeiro
Na estampa do céu um fogareiro
No olhar do matuto um alagado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro