O retrato do tempo
João de limaSão espinhos da velhice que mãos ocultas plantaram
No jardim da minha vida depois que as rosas murcharam
São lâmpadas que brilharam com luz forte e colorida
Mas com o passar dos anos viu-se a luz enfraquecida
Se apagando aos poucos na escuridão da vida
Ruga curta ou cumprida que vejo contra a vontade
São sinais obrigatórios parando a velocidade
Do carro velho do tempo dando adeus à mocidade
São sinônimos de saudade que eu não queria ter
No livro da minha face não gostaria de ler
Mas o espelho do tempo é quem me obriga ver
Recebo sem perceber contra a vontade minha
Na velha estação dos anos cada ruga é uma linha
Levando um trem de saudade que na infância não tinha
No trem da infância minha andei na primeira classe
Porem cansei na viagem que cada ruga que nasce
É uma esperança que morre no canto da minha face
A se o passado voltasse pra quando eu fosse dormir
Ver mãe balançando a rede devagar pra não cair
Que hoje eu canto chorando mais já chorei de sorrir
Não vou mandar colorir o meu cabelo sem brilho
Vai ficar branco orvalhado como boneca de milho
É a herança do tempo que passa de pai pra filho
Sou um fracassado trilho do trem da vida correr
Como o peso da saudade vejo o chão estremecer
O que eu podia e não levava hoje levo sem poder
Sou um fracassado trilho do trem da vida correr
Como o peso da saudade vejo o chão estremecer
O que eu podia e não levava hoje levo sem poder
Vejo a canoa pendendo nas ondas dos desenganos
Sou pescador da saudade em profundos oceanos
Afogando as esperanças nas correntezas dos anos
Vejo a canoa pendendo nas ondas dos desenganos
Sou pescador da saudade em profundos oceanos
Afogando as esperanças nas correntezas dos anos.