Karam

Fragmento de poema de encastelar delírios

Karam
Escrevo como se quisesse sobreviver ao que me cerca
Ao tempo, inclusive
Arquiteto 'eus' mirabolantes
Me crio e recrio em palavras

Sou um desafio constante
Quem me lê está cada vez mais longe de mim
Não me revelo, até porque não há como expor
As entranhas de quem sou

Elas estão comigo
Por demais intactas
E daqui não se vão nem com o apagar da vida

A poesia há de encontrar caminhos que não os dá escrita
Ela deve ser imagem, cheiro, som, desejo, arrepio
Ela precisa, para ser mesmo poesia
Adentrar o misterioso campo dos sentidos, das sensações
De tudo o que não pode ser traduzido em palavras

Quando suas asas chegarem lá
E em cada ser humano ela estiver germinando silenciosamente
Não precisaremos mais de escritores e poetas
Pois todos seremos os próprios poemas

Quero um mundo em que não haja
A precária necessidade de se traduzir sentimento
Quero um mundo em que o sentimento
Seja a própria tradução de tudo

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