Encharcando campo e alma
Leandro teixeiraCom a boiada pra noutra estância invernar
Pois a estiagem judiou pastiçal e aguadas
Inté a cruzada do arroio fez minguar!
Levo comigo um pessuelo de saudades
E a ansiedade de abraçar a piazada
(É menos mal que lá choveu o mês inteiro)
E um ovelheiro pra anunciar minha chegada!
Um pingo d'água se topou com meu chapéu
Bombeio o céu já negro em riba pra chover
Peço ao patrão me presentear com tal regalo
Que inté o cavalo já quer água pra beber!
Desdobro o poncho, que na mala fez querência
Em reverência a esta bendita garoa
Que vem regar a alma ensoada de angústias
Mas a la pucha que se veio em hora boa!
Lombos molhados vão no rumo da porteira
E a prenda faceira, na cancela eu avistei
Colho uma flor de maçanilha no barranco
No mesmo tranco para ela eu entreguei!
O campo encharcado rebenqueia a seca embora
(Deus sabe a hora de afastar o mal e a dor)
Tão cedo agora não vai ter poeira na estrada
E outra tropeada sobre o vau do cruzador!