Língua de trapo

Tragédia afrodisíaca

Língua de trapo
Fui dar uns esbordeios no Bixiga
Ver se alguma rapariga
Se dispunha a um tête-à-tête
(meu sonho era uma chacrete)
Mas antes do amor ser consumado
Quis ter o estômago forrado
Pra evitar humilhação
Corri pruma cantina italiana
Pedi filé a parmegiana
Com catuaba, arroz e pão
(para surpresa do garção)
De quebra um prato de sopa bem morna
Vinte ovinhos de codorna
Tudo ao molho vinagrete
(para encarar o tête-à-tetê)
Comi mais do que um monge tibetano
A sobremesa foi tutano
Pra aumentar minha energia
Quando eu inda queixava-me da conta
Lá no hall de entrada aponta
Um monumento de guria
(cinco de frente, três de esguia)
Sem perda de um segundo abordei-a
Convidando-a pra ceia
E de pronto ela aceitou
Com tanta energia armazenada
Já passei-lhe uma cantada:
Vamos lá pro meu chatô
Eu moro num apê em Santo Amaro
O aluguel de lá é caro
Mas não tem elevador
(a escadaria é um suador)
Então
ela encarou-me e disse:
filho
Não existe empecilho
Que detenha-nos de amar
(mandei um táxi parar)
No interior de um táxi mirim
Eu resolvi, então, enfim,
Partir de cara pra ação
Depois de mordiscar a sua nuca
Vi que ela usava peruca
E que seu nome era João
(nas horas vagas, Conceição...)
Conceição, eu me lembro muito
bem,
Conceição, eu me lembro muito
bem...
Encontrou algum erro na letra? Por favor envie uma correção clicando aqui!