Segredos
Luiz faria e silva netoQual flor entreaberta do dia ao raiar
Mas onde ela mora que casa ela habita
- Não quero, não posso, não devo contar
Seu rosto é formoso, seu tipo elegante
Os lábios de rosa, a fala é de mel
as tranças compridas
nos ombros quedantes
Leveza de fada, - cintura de anel
Os olhos rasgados são cor das safiras
Serenos e puros azuis como o mar
Se falam sinceros, se pregam mentira
- Não quero, não posso, não devo contar
Eu ontem no baile com ela valsando
Senti as delicias dos anjos do céu
Na dança ligeira, qual silfo voando
Caiu-lhe do rosto seu cândido véu
Que noite,que baile, seu hálito virgem
Queimava-me as faces no louco valsar
As falas sentidas que os olhos falavam
- Não quero, não posso, não devo contar
Depois, indolente
firmou-se em meu braço
Fugimos das salas, do mundo talvez
Inda era mais bela, rendida ao cansaço
Morrendo de amores em tal languidez
S o l o
Que noite, que festa, que lânguido rosto
Banhado ao reflexo do brando luar
A neve do colo e as ondas dos seios
- Não quero, não posso, não devo contar
A noite é sublime, tem longos queixumes
Mistérios profundos que eu mesmo não sei
Do mar os gemidos, do prado os perfumes
De amor me mataram, de amor suspirei
Agora vos juro..palavra!, -não minto!
Ouvi a formosa, também suspirar
Os doces suspiros que os ecos ouviram
- Não quero, não posso, não devo contar
Então nesse instante nas aguas do rio
Passava uma barca e o bom remador
Cantava na flauta: - "nas noites d'estio
O céu tem estrelas e o mar tem amor"
E a voz maviosa do bom gandoleiro
Repete cantando,- viver é amar
Se os peitos respondem 'a voz do barqueiro
- Não quero, não posso, não devo contar
Trememos de medo, a boca emudece
mais sentem-se os pulos do meu coração
Seu seio nevado de amor se entumesce
Os lábios se tocam no ardor da paixão
Mas vejo que vós, meus senhores ouvintes
Com a fina malícia quereis me enganar
Aqui faço ponto, segredos de amores
- Não quero, não posso, não devo contar
Não quero, não posso, não devo contar
Não quero, não posso, não devo contar