Carneada
Mauro moraesUm ventito puxa o norte pras barras da madrugada
No galpão a peonada toca uma charla entretida
Que depois da recolhida vão lidar numa carneada!
Ao tranco prá uma mangueira que a tambeira mostra o rumo
Entra junto pra o consumo a vaca gorda e falhada
Uma preta azebuada que o trevo afirmou à graxa
E hoje no más se agacha no fio da faca afiada!
Cavalo manso encilhado sovéu e laço nos tentos
Nesta lida que é o sustento pra mesa do chão fronteiro
Salta o sovéu pescoceiro num tiro certo e preciso
E pra sombra de um paraíso se vai cinchando o campeiro!
O sangrador coloreia ao cheiro que o sangue pulsa
Num berro a vaca debruça como se fosse oração
Numa prece pra o rincão que viu nascer a terneira
E hoje tem na carneadeira sua ultima comunhão!
Riscando o couro começa as patas e a barrigueira
E a chaira nem que não queira não se aparta da carneada
Volta e meia uma chairada como quem toca de ouvido
Já tem o couro tendido na milonga mais afiada!
Cerra o peito e ata a goela com uma virilha deitada
O coração, a “riñonada”, vai apartando as frisura
E quando a carne pendura no gancho pra ir oreando
Tem o Rio Grande mostrando do campo a força e a fartura!
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