Numa volta de tropa
Mauro moraesNem sei direito porque me veio esta lembrança
Ando de poncho emalado cuidando uma manga d´água
"Carregadita" de mágoas com cismas de chuva mansa
Cuido a querência a légua e pico e me sobra estrada
De alma pesada depois de dias, que ando voltando
Deito um arame porque conheço cada fronteira
Sei que a porteira fica mais longe de onde ando
Ouço o cincerro da égua madrinha
Que de soslaio trazendo baios
Chega pra perto do meu gateado
Quem me conhece bem não troca orelha comigo
- Tem um amigo pra quando a dor lhe fizer costado!
Sou desse jeito e o meu gateado já me conhece
E não se esquece o que o campo já lhe ensinou
Ando faz tempo na vida, na estrada nem sei quando
Ando assim procurando sem saber pra onde vou
Penso comigo escutando a voz mansa do cincerro:
- Sabe parceiro até parece que o mundo pára
Quando o campo bebe a tarde numa ponta de garoa
E minha alma longe voa num gateado malacara
Me vou ao passo e me cai a chuva sobre o chapéu
Desaba o céu mas o meu poncho não emponcha nada
Pinga nas abas, sobre as clinas do meu gateado
Sigo molhado mas volto às casas de alma lavada.
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