Música clichê de amor
Menino mestiçoEla sempre de sutiã
Ele de bermudão
Ela de fio dental an
Ele largado, camisa de time e chinelo
Ela de salto alto e roupas que destacam seu sexo
Ele sem se preocupar com a aparência
Ela hidratação, depilação, salão de beleza
Ele não liga pro padrão imposto pela mídia
Ela é oprimida pelos padrões das revistas
Ele fala gíria
Ela não pode falar
Ele age sem pensar
Ela não pode agir
Ele se acha o dono da verdade, xinga e grita
Ela não pode discordar senão é ofendida
Ele se gaba de todas que pegou e comeu
Ela não fala de transar porque se não fudeu
Ele é garanhão, fudedor, orgulho do pai
Ela é santa, imaculada, princesinha do papai
Ele é pegador
Ela não pode ser
Ele toma a iniciativa
Ela não pode tomar
Ele marca com uma e sai com outra
Ela fala que não tá afim, ele chama ela de escrota
Ele fica até altas horas na rua
Ela não sai a noite senão ele chama ela de puta
Ele volta quando quer, faz o que quiser
Ela tem que ser pra ele, moça de família, aquela de fé
Ela é pau pra toda obra
Ele é zé buceta
Ela é pica das galáxias
Ele veste saia
Ela é o homem da casa
Ele é mulherzinha
Ela é coisa de macho
Ele é feminista
É só olhar
Esse mundo não foi feito pra gente
E perceber
Esse mundo não foi feito pra gente
E refletir
Esse mundo não foi feito pra gente
E entender
Esse mundo não foi feito pra gente
Ele é nego drama, as branca adora um esquema
Se gaba do pau grande, e não vê o problema
Ela é mulher preta sempre sexualizada
Na tela é vista como globeleza ou a empregada
Ele é estilo cachorro, malandrão e pá
Bota elas pra mamar, e depois manda andar
Ela lida com a solidão da mulher negra
Porque na hora de assumir ele chama uma branca de nega
Ele é marrento, vida loka que faz um som
Chama as mina pra colar mas só no refrão
Ela é talentosa, esforçada, tem o próprio hit
Mas as vezes é chamada só pra rebolar no clipe
Ele tem o respeito dos mano de quebrada
Sai de rolê a noite e não deixa a mãe preocupada
Ela também é de quebrada mas recebe cantada
Assobio, assédio, no busão cheio é encoxada
Ele é fogo nos racista, soco, bala
Mas passa um pano pras uma branca que dá pala
Ela nunca se cala, mas é vista como estressada
Por ser mulher e ser preta é invisibilizada
Ele faz filho, e só é pai em foto do dia dos pais
Ela tem filho, mãe solteira contra o mundo, vai
Ele não quer filho, some no mundo
Ela quer abortar, mas ele diz que isso é absurdo
Ela é pau pra toda obra
Ele é zé buceta
Ela é pica das galáxias
Ele veste saia
Ela é o homem da casa
Ele é mulherzinha
Ela é coisa de macho
Ele é feminista
É só olhar
Esse mundo não foi feito pra gente
E perceber
Esse mundo não foi feito pra gente
E refletir
Esse mundo não foi feito pra gente
E entender
Esse mundo não foi feito pra gente
Ele não reconhece os seus privilégios
Acima de tudo, tira proveito da situação
Ela só é respeitada do lado de outro cara
E precisa sempre reforçar mil vezes o não
Ele diz que entende ela só pra leva-la pra cama
Se diz do movimento, e no face quer discursar
Ela tenta explicar que o protagonismo é dela
Mas ele explica pra ela o que ela acabou de explicar
Ele sempre quer se intrometer em tudo
No corpo dela, no trabalho dela, nas escolhas dela
Ela busca emancipação nesse mundo
Onde o herói é sempre homem e a mulher é sempre donzela
Ele luta contra o sistema
Ela faz revolução todo dia quando tem que sair de casa
Ele quer o fim da desigualdade
Ela vive a desigualdade quando ele não limpa nem a própria casa
Ele faz canção só pra ganhar elogio
Ela não precisa que sua voz seja roubada
Ele sempre conta a história como se fosse o dono
Ela protesta, se manifesta, não ouve calada
E essa música ele nem precisava ter feito
Mas vão chamar ele de o cara ou outra coisa
Mas se fosse ela quem tivesse feito
Pode ser que chamariam ela de louca
E essa música ele nem precisava ter feito
Mas vão chamar ele de o cara ou outra coisa
Mas se fosse ela quem tivesse feito
Talvez chamariam ela de louca