Mestiço

Eu querubim

Mestiço
Quando nasci, nasceu comigo um querubim
Anjo torto safado, filho do desejo
De boa índole, mais apegado a carne
Calmo e destruidor, como a natureza

Corre comigo atrás das pernas
Pretas,brancas, amarelas
Samba na favela,
Cospe, lambe, as vielas

Na vida se joga
Se perde se ganha
Se leva na manhã
Amanhã de manhã

E quando chego na fronteira da razão
Nasceu comigo um coração
De unhas afiadas ancorado ao corpo
Segue os passos de um bem feitor

É um porto que chega
Que leva, puxa a rede até o fim
E os olhos seguem cegos
Na ilusão de um querubim

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